Crianças.

Quando eu era criança não pensava em tanta coisa como hoje. Eu era tão mais calma, tão mais alegre, sem o peso do mundo, das cobranças, eu podia ser eu de vestidinho e descalça. Lembro do cheiro da minha infância, bolinho de chuva com café, aaah como eu amava chegar da escola, adentrar a cozinha e ver minha linda avó fazendo os bolinhos e o café. Eu era a única criança da casa, brincava com as crianças da rua a maioria meninos. Gostava de ficar sentada olhando os carros e imaginando pra onde as pessoas iam.
Aprendi a fazer comidinha de mato, bolinho de barro, trocar roupinhas de bebê em bonecas, aprendi que levar terrão no olho doí e arde, sei o quanto incomoda ficar 30 dias sem poder colocar o pé no chão pois uma torção é foda. Sofria com o Merthiolate nos cortes, ralados e feridas profundas nos joelhos. Tenho cicatrizes até hoje.
Eu tive uma infância que muitas crianças queriam ter, tinham os brinquedos que queria, estudava e tirava boas notas, tive festas de aniversários, tinha um tio padrinho que me ensinou a catar minhoca e amar o time mais lindo. Uma avó que apesar de brigar muito comigo na adolescência me queria muito bem, queria me ver feliz. E uma mãe que não estava muito presente pois tinha de trabalhar para eu ter o meu leite com toddy todo dia. Eu só não tive a sorte de ter um pai presente, mas isso foi suprido com os tios, porém não totalmente. Mas não pensem que eu me tornei rebelde pois vi meu tio padrinho e minha avó irem embora antes de me verem formando na faculdade, não pensem que me revoltei com o mundo porque meu pai ao invés de saber como eu estava, criava outros filhos e vivia outra vida. Não, isso só me fez mais forte, pois ao meu lado tive pessoas maravilhosas, que queriam meu bem e a minha felicidade.
A única foto que tenho com meu pai. Aniversário de 1 ano.
Doí ver crianças hoje fazendo birrinha por um Iphone, enquanto eu só queria ver as crianças da favela brincando nas ruas, sem medo de levar um tiro. Queria ver as crianças da Africa, dos semáforos  da rua ter o que comer. Isso me faz ver o quanto as vezes sou má agradecida com tudo.
O que mais me admira disso tudo, é que mesmo as crianças mais pobres, que muitas vezes têm de deixar sua infância para ajudar em casa, elas não perdem os sonhos, o brilho no olhar ao ganhar um brinquedo simples, sem tanta tecnologia ou com preços exorbitantes. Ver o sorriso de uma criança que cresce como adulto não tem preço, pode ser doloroso ver, mas naquele sorriso se esconde sonhos, planos, e vontades. Eu fui feliz quando criança, apesar de todos os desafios, de todas ás mágoas, de tanta tristeza da perda, eu fui feliz. E só deixo um recado: se você tem uma família (pai, mãe,irmãos, avós, tios) dê valor, independente da sua situação financeira, tenha amor, carinho e se dedique ao máximo para ser um cidadão de bem, pois não há maior orgulho para um pai e uma mãe em ver sua Criança crescer e ter caráter, dignidade e humildade.  

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